19 de setembro de 2024

Corumbá é uma das cinco cidades de Mato Grosso do Sul, consideradas como potencial alvo do “Domínio de Cidade”, um crime conhecido, como o “Novo Cangaço”, conforme o tenente-coronel Souza, do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da Polícia Militar do Estado. Por isso, o município pantaneiro recebeu na noite de quarta-feira, 05 de julho, o Simulado Plano de Defesa, reunindo as forças de segurança que atuam no combate a este crime.

Com duração de aproximadamente 25 minutos, dois locais da cidade serviram como alvos para a realização do simulado: em frente a agência da Caixa Econômica Federal, na rua Cuiabá, área central e na empresa Brinks – especializada na logística de transporte de valores -, localizada na Avenida Porto Carrero, entre as ruas Luiz Feitosa Rodrigues e Firmo de Matos.

Segundo o Bope, a simulação envolveu aproximadamente 1.000 pessoas, entre homens das forças de segurança, empresas envolvidas e população. As ruas do entorno da instituição financeira foram bloqueadas e muita gente acompanhou  passo a passo a atuação. Tiros de festim e bombas fizeram parte da simulação, que teve reféns fictícios – duas mulheres e quatro homens -, que retrataram o real ataque do “Novo Cangaço”, que tem como alvos principais agências bancárias e empresas de transporte de valores.

A chegada dos criminosos

Os “ladrões” chegaram em três veículos, alguns encapuzados, outros com o rosto coberto com camisetas e fortemente armados. Entraram na agência da Caixa Econômica Federal, renderam os reféns e começaram a agir rapidamente, uns monitorando a área, outros carregando os veículos com os malotes cheios de dinheiro e o restante mantendo os reféns na mira das armas de fogo.Logo depois, eles se prepararam para a fuga. Já com as forças de segurança no local, mas sem agir, apenas mapeando e controlando a área, eles saíram com os veículos e também os reféns, usados como bloqueio para a fuga, alguns foram colocados em cima dos veículos sem camisa e outros na carroceira. Se deslocaram para as eventuais áreas de fuga. Em Corumbá e na Bolívia, cujas forças policiais também participaram do simulado, foram cerca de 20 pontos de bloqueios monitoradas durante a ação.

“Corumbá tem requisito para ter esse tipo de crime e não queremos que ocorra, como já se passou em Confresa (MT), Ourinhos (MG), por exemplo. Por isso realizamos esse simulado, para mostrar que estamos preparados. Para se ter uma ideia, em média o crime em evolução que é chamado de ‘Domínio de Cidade’ reúne 40 ou mais criminosos atacando, com duração de 01h30, agindo com ataques à Polícia, outro grupo fecha saídas, outros queimam veículos em rodovias e o ‘Novo Cangaço’, entre 10 a 15 criminosos, com duração de 45 minutos aproximadamente”, explicou o tenente-coronel Vinícius de Souza Almeida, do BOPE durante coletiva de imprensa.

Ele também frisou sobre a questão dos armamentos utilizados pelos criminosos, que são considerados, muitas vezes, superiores aos usados no combate a esse crime. Além de Corumbá, municípios como Três Lagoas, Dourados, Campo Grande, Ponta Porã são as outras cidades denominadas como “ponto alvo”.

“Diante disso, a nossa primeira resposta é sobreviver e não confrontar, eles vêm mais fortes do que o policiamento. Usam reféns, não temos como atirar, mas para o criminoso completar o roubo, ele precisa fugir e é aí que entramos, não deixamos ele fugir. Por isso é que temos esse trabalho de prevenção com o Plano de Defesa, onde até então, não deixamos o Mato Grosso do Sul chegar ao nível de caos. A gente salva vidas, e esse plano, estamos fazendo desde 2013, e vários estados copiam e fazem seu plano de defesa”, falou.

Durante a simulação, muitas pessoas questionaram o motivo de a polícia não ter agido durante o roubo, para tentar render os criminosos. “Principal impedimento de a gente agir em frente ao local que está sendo atacado é a utilização de reféns. A gente prima pela vida do cidadão, dos moradores da cidade e dos policiais. É um risco enorme, porque os criminosos preparam a ação, por vezes em até anos, investindo em armamentos, explosivos. Quando os criminosos preparam a fuga é onde entramos e atuamos”, disse o tenente-coronel Souza.

Área de Corumbá

Corumbá é um município que possui características e peculiaridades bem diferentes de muitas outras cidades do Estado. Está geograficamente localizada na margem direita do rio Paraguai, rodeado por morrarias, várias estradas rurais, além da fronteira seca com a Bolívia, tendo a Rodovia Ramão Gomes, que interliga os dois países. Há ainda as “cabriteiras”, estradas vicinais que também são usadas para cruzar a linha internacional.

Anderson Gallo/Diário Corumbaense

Comandante do Bope, tenente-coronel Souza

“Ao mesmo tempo que Corumbá tem todas essas características, a cidade também tem instituições responsáveis pela proteção. Então, esse tipo de crime, consegue reunir todos esses órgãos de segurança da cidade. Pior crise que temos na segurança pública mesmo que se tenha o terreno ‘favorável’ para o criminoso, a gente tem aqui em Corumbá essa força de união e faz com que fechemos raio em média de 150 km, caso esse crime ocorra na região, atuando de forma segura”, disse o comandante do Bope

Participação da população e trabalho de integração

Em caso real de ataque, a recomendação é que a população permaneça trancada dentro das casas, que ficam próximo ao local alvo dos criminosos, até que tudo seja resolvido.

Porém, como na noite de quarta, foi realizado apenas um simulado, foi permitida a participação. No entanto o tenente-coronel do Bope, reforçou sobre ocorrências reais. “A população tem que ficar em casa, enquanto o plano de defesa é acionado e cada órgão de segurança envolvido, vai cumprir sua missão. Mas, neste treinamento, tivemos a participação da população”, mencionou.Acompanhando tudo de perto, o empresário, Flávio Soarez de Araújo, de 38 anos, morador do bairro Popular Nova, veio com a esposa, filhos e a mãe, para assistir ao simulado. Ele ficou impressionado com a ação.

“Soube a partir dos jornais e resolvi vir com a família. Por mais que seja uma simulação, o barulho dos tiros e das bombas, chega a ser assustador e ‘real’, ainda mais quando os reféns ficam na mira das armas. A gente nunca imagina que vai passar por isso, mas estamos propícios, ainda mais em área de fronteira. Ao ver todas essas ações, percebe-se que são bem planejadas e se passarmos por isso, aparentemente estamos bem resguardados”, disse Flávio.

Um dos reféns fictícios, o jovem Gabriel Abrahão Gomes de Oliveira, de 24 anos, contou que o motivo de participar da simulação foi porque ele está passando por uma das etapas do concurso público da Polícia Militar e quis sentir de perto como é feito o trabalho das forças de segurança pública.

Corumbá já tinha o Plano de Defesa elaborado pela Polícia Militar. Até o ano passado competia a cada comandante territorial da PM preparar a ação e atualizá-la a cada seis meses, isso devido a muitas intercorrências, como a própria população mudando de endereço, policiais trocando de Batalhões.

“Em 2022, portaria da Secretaria de Justiça e Segurança Pública, tornou o plano de defesa um planejamento estratégico. Hoje, o plano não é só da PM, é da Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Cada região tem um plano de defesa”, revelou o tenente-coronel do BOPE.

Ano passado cidades como Três Lagos, Naviraí, Dourados e Ponta Porã realizaram o plano de defesa. Esse ano, Campo Grande, Corumbá e na última semana de julho, as cidades de Aquidauana e Jardim.

Estiveram envolvidos no Plano de Defesa de Corumbá, o Bope, Polícias Militar e Civil, Perícia da Polícia Civil, Agetrat, Guarda Municipal, Marinha do Brasil, Poder Judiciário, Polícia Boliviana, PRF, Corpo de Bombeiros e policiais militares ambientais.

Créditos: Diário Corumbaense

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